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Tal qual uma matrioshka (boneca russa), vamos desvendando nossas porções. A cada novo tempo, uma nova aprendizagem. Agora é o momento de nos vermos como seres holísticos que têm: corpo, organismo, cognição (intelecto), inconsciente (desejo) e mente (consciência, espírito).

ANGELINI, Rossana Maia (2011)

“A falsa ciência cria os ateus, a verdadeira, faz o homem prostrar-se diante da divindade.”

VOLTAIRE (1694 -1778)

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Texto para reflexão: Conexões – uma nova compreensão sobre as relações de aprendizagem


Conexões – uma nova compreensão sobre as relações de aprendizagem

“Você não pode mudar o mundo sem mudar a si próprio”
GOSWANI (2010)

         Enquanto professora e psicopedagoga ligada à vida acadêmica, fundada na ciência materialista, confesso que tratar do tema “espiritualidade, sem cair no foco da religião, é um grande desafio. Entretanto, já não é mais possível “fazer de conta” que fenômenos espirituais atravessam nossa vida e nossas relações. É chegado o momento de ativarmos os novos conhecimentos científicos que estão sendo construídos pela ciência contemporânea.
         Pretendemos estreitar a ponte entre ciência e religião, tomando a espiritualidade como foco. Daqui para frente, queremos entender essa dimensão do homem e como trabalhá-la na sala de aula, no consultório, nas relações que estabelecemos com a vida.
         A aprendizagem permeia nossa vida, desde que somos gerados. Tudo é aprendizagem. Estamos para aprender, entretanto o que mais nos intriga enquanto educadores é o que se estabelece nas relações de aprendizagem, o que atravessa esse movimento, durante toda nossa vida.
         De acordo com estudos de alguns importantes teóricos, como Piaget, Vygotsky, Wallon, Freud, Lacan, entre outros, compreendemos que nas relações de aprendizagem não entra em jogo apenas a cognição; o intelecto, outros aspectos também entram em cena: o corpo, o organismo, o desejo, o inconsciente. Nessa teia de relações que se desenvolve a aprendizagem.
         À medida que a ciência contemporânea tem encontrado novas explicações sobre o homem, temos a possibilidade de ampliar nossos conhecimentos sobre a aprendizagem. Assim, vemos o homem como um ser que tem corpo, organismo, cognição (intelecto), inconsciente (desejo). Freud, o criador da psicanálise, no século XX, alargou mais o saber sobre nós mesmos e trouxe o inconsciente como parte vital da estrutura de nossa psique. Entretanto, ainda ficou faltando mais uma dimensão do homem, para o vermos de forma holística. Falta incluirmos a dimensão do espírito, da alma, da consciência, da mente.
         Estudos científicos sobre a comprovação de nossa porção espiritual, do que nos permite a transcendência tem sido motivo de pesquisas em grande parte do mundo e por meio dessas novas descobertas, a partir do final do século XX, temos tido oportunidade de compreender a espiritualidade como condição do humano, como algo que nos integra e nos conecta ao que nos transcende. Temos clareza dessas evidências científicas hoje, portanto cabe incluirmos essa dimensão ao todo que somos nós: corpo, organismo, cognição (intelecto- cérebro), inconsciente (desejo), espírito, alma (mente).
         Dessa forma, partimos do pressuposto que a mente e o cérebro são partes distintas que nos integram enquanto seres humanos. Cremos que, a partir desse século, teremos a compreensão de nossa espiritualidade e o nosso intuito é integrá-la como parte do desenvolvimento da aprendizagem.
         Na condição de seres espirituais, com certeza, nosso compromisso com a nossa vida e com a vida em geral devem mudar. Esse é o momento para refletirmos e discutirmos os novos saberes em toda a sociedade, essencialmente, por meio da educação, desde a educação básica até a universidade, para que possamos ampliar essas conquistas e construir novos conhecimentos sobre nós, sobre as nossas relações com a vida e com o mundo.
         A cada tempo, descobrimos um pouco mais sobre nós e é esse movimento que nos propicia um novo mundo, uma nova sociedade, uma nova ética. Já se passou uma década do século XXI, temos que nos organizar enquanto sociedade, para pormos em prática os novos paradigmas e expandi-los em todo mundo, em todas as áreas de estudos, por meio de ações e atitudes mais humanizadoras. Clamamos por uma nova ética, por uma nova compreensão do humano e do nosso sentido na comunidade humana. Caminhamos para uma nova era em que ciência e religião iniciam uma nova conexão sobre “Quem somos nós?”
         As novas contribuições científicas são muitas e todas elas têm-nos apontado novos caminhos para a compreensão da vida. Cientistas como: CLARKE, BEAUREGARD, FENWICK, GOSWAMI, HAMEROFF, PENROSE, entre outros, nos mais diferentes campos de pesquisa, como o da física quântica, neuropsiquiatria, psicologia, psiquiatria, neurociências, neurobiologia e outros estudos têm propiciado um alargamento dessa compreensão. Acreditamos, portanto, que a educação é o caminho para divulgarmos os novos saberes e construirmos uma sociedade mais humana, fundamentalmente, junto às crianças. Cabe, então, aos pais, aos educadores ativar esse projeto. Por meio da aprendizagem dos novos paradigmas da pós-modernidade, precisaremos pôr em ação uma educação que trabalhe a autoria, a criatividade, a autonomia de pensamento, tendo como eixo a espiritualidade, cujo objetivo é a construção de uma ética pautada na condição da espiritualidade do homem.
         Nesse sentido, partimos do pressuposto que a espiritualidade é condição do homem, sua essência, que necessita ser aprimorada, educada. Somos seres espirituais em experiência corpórea, ou seja, há necessidade de que nos comprometamos com o sentido de estarmos aqui e do como tratar o planeta, a fim de que todos juntos, em cooperação, possamos desenvolver a sustentabilidade e o amor à vida. Faz-se urgente recuperarmos o sagrado, a nossa dimensão transcendental, que faz parte da nossa condição, tal como ter um organismo, um corpo, um inconsciente, um espírito, uma alma, uma consciência que nos conecta a algo Superior a nós mesmos. À medida que os estudos avançam, sabemos que não somos seres individuais, somos singulares, sim, em nossos processos, entretanto, estamos em comunhão o tempo todo, na empreitada da vida. Estamos em rede, conectados fisicamente, trocamos elétrons com tudo e todos a todo tempo, sem sabermos, de fato, o que ocorre. A interatividade a que estamos submetidos provoca ações e reações, a ação de um transforma o outro de uma forma constante e aleatória, daí nossa responsabilidade com a vida, seja ela qual for, como for.
         A ciência contemporânea tem nos dado provas concretas, materiais sobre nós e nossa dimensão transcendental. Parece incoerente, a ciência dando-nos provas de nossa dimensão espiritual, portanto, já não é mais possível ignorar tal conhecimento ou banalizá-lo, deixando de reconhecer fenômenos que são inerentes a nós. É momento de expandirmos nossa visão de forma multidisciplinar sobre nós, seres humanos que entram nesse mundo de forma desconhecida, sem saber o sentido da própria vida. Fica tácita, então, a importância da educação nesse processo, mais especificamente, da aprendizagem, de tudo que temos de vencer no percurso da existência, para evoluirmos para o um caminho mais iluminado.
         Atualmente, já se sabe que a mente independe do cérebro.
“O cérebro, contudo, não é a mente; é um órgão apropriado para ligar a mente ao restante do universo.”(BEAUREGARD &O´LERARY, 2010,p.11). Pesquisas por meio de neuroimagens têm nos proporcionado essa inovação. Também já existem estudos que mostram que a mente altera a matéria, modifica sua estrutura por meio de vibrações positivas ou negativas. Temos pesquisas nas áreas da física quântica, da neurobiologia, da neuroimagem que têm possibilitado uma parte da compreensão de fenômenos que existem, porém, não explicados por uma ciência reducionista. Ainda, temos fenômenos que existem e precisam ser entendidos e não banidos da condição humana. Somos seres movidos por energia, por moléculas em alta vibração que, aglutinadas, nos dá a impressão de matéria sólida. Sabemos que a mente ativa essa energia, fazendo-a vibrar. Os autores BEAUREGARD & O´LEARY trazem em seu livro “O Cérebro Espiritual” importantes investigações:

         No Capítulo 6 apresenta estudos mostrando que a mente age no cérebro como uma causa não material. Também apresento uma hipótese de como a mente interage com o cérebro. Recentemente, interessantes estudos científicos, alguns conduzidos por Peter Fenwick, Sam Parnia, Bruce Greyson e Pin van Lommel sobre experiências de quase-morte (EQM), dão apoio extra a essa visão. Também se apresentam alguns casos investigados pelo pesquisador Kenneth Ring, mostrando que as pessoas nascidas cegas enxergam durante uma EQM, e o caso de Pam Reynolds, julgada clinicamente morta quando ocorreu a EQM. Em geral, a ocorrência de EQMs durante uma parada cardíaca suscita questões sobre a possível relação entre a mente e o cérebro. A mente e a consciência parecem continuar em um momento em que o cérebro não é funcional e é considerado morto segundo os critérios clínicos. Se for este o caso, é muito plausível que os místicos na verdade entrem em contato com alguma coisa fora deles quando estão em profundo estado místico. (BEAUREGARD & O´LEARY, 2010, p. 58)

         Os autores continuam seus estudos, pondo em destaque pesquisas com as freiras carmelitas:

         O Capítulo 9 apresenta o projeto e a pesquisa que fiz com Vincent Paquette, meu aluno de doutorado. Realizamos o projeto com as freiras carmelitas empregando ferramentas científicas para identificar o que acontece no cérebro delas quando lembram e revivem a unio mystica, a união mística com Deus (a meta principal das técnicas contemplativas praticadas pelos cristãos místicos). Usamos duas das mais poderosas tecnologias de imagens de cérebro funcional existentes, imagens por ressonância magnética funcional (IRMf) e eletrencefalografia quantitativa (EEGQ). A última mede as correntes elétricas, na superfície do escalpo, que refletem os registros gráficos das ondas cerebrais. Podem ser estatisticamente analisadas, traduzidas em números e depois reproduzidas como um mapa colorido. O que os estudos de neuoimagem demonstram é que a experiência de união com Deus não está apenas associada ao lobo temporal. (BEAUREGARD & O´LEARY, 2010, p. 58, 59)
        
         Temos muito conhecimento científico já construído sobre nossa condição humana, esses avanços que nos permitem estar aqui e traçar a construção de uma educação conectada ao todo, àquilo que nos transcende e  nos conecta aos outros seres humanos de forma ética.
         Goswami, professor emérito do departamento de Física da Universidade de Oregon, EUA – denomina esse movimento de ativismo quântico – nossa capacidade de mudar o mundo e a nós mesmos, por meio da física quântica, do desenvolvimento espiritual e de nosso poder de criação. O objetivo é recuperar a vida no planeta e libertar-nos da crise em que nos encontramos: crise espiritual, crise social, crise econômica, crise das relações, crise dos valores, crise geral.
         Compartilhamos de tal movimento e buscamos por meio da educação o desdobramento desses novos saberes. A autoria e a criatividade têm nos impulsionado para a transformação pessoal e social para que aprendamos a ter um maior compromisso com a Vida!
         Estamos em busca da ativação desse conhecimento, propondo uma aprendizagem que faça sentido, que resgate a autoria do aprendente, por meio de estratégias que possibilitem a pesquisa, o diálogo, a criatividade, a fim de que a ética sagrada das relações sejam harmoniosamente construídas. Estamos todos ligados, a ação de um reflete no outro, em cadeia. Dessa forma, a sociedade vai se compondo, se desdobrando, daí nossa responsabilidade enquanto educadores: recuperar o sagrado que nos conecta à vida como um todo “O novo paradigma é abrangente, trata-se de uma ciência da espiritualidade que inclui a materialidade.” (GOSWAMI, 2010, p.9).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BEAUREGARD, Mario & O´LERARY, Denyse. O Cérebro Espiritual – uma explicação neurocientífica para a existência da alma. Tradução: Alda Porto. Rio de Janeiro: Best Seller, 2010.

GOSWAMI, Amit. O Ativista Quântico – Princípios da Física Quântica para mudar o mundo e anos mesmos. Tradução: Marcelo Borges. – São Paulo: Aleph, 2010.

Caro leitor, comente esse texto ao final da leitura, sua reflexão é muito importante!


2 comentários:

  1. QUERIDA PROFESSORA ROSSANA, ESTE SEU ARTIGO ME REMETE A UMA SÉRIE DE REFLEXÕES QUE DE HÁ MUITO VENHO FAZENDO, PESQUISANDO, OBSERVANDO E TENTANDO DE ALGUMA FORMA AJUSTAR ALGUNS SABERES A MINHA PRÁTICA DOCENTE COM CRIANÇAS.
    A PRIMEIRA COISA QUE ME VEIO Á MENTE FOI QUE A BARREIRA QUE A CIÊNCIA COLOCA EM ALGUMAS DOUTRINAS ESPIRITUALISTAS, QUE ANTECIPO SÃO PERMEADAS POR LONGOS E EXAUSTIVOS ESTUDOS TODOS FUNDAMENTADOS NA PRÓPRIA CIÊNCIA E QUE NOS PERMITE ENXERGAR COM MAIS CLAREZA ALGUMAS DAS NOSSAS POSTURAS SOCIAIS EQUIVOCADAS POR MUITO ESTRUTURADAS EM NOSSO COMPORTAMENTO E QUE DIFICILMENTE NOS MOSTRAM SEU CONTRAPONTO.TRAGO COMO CONTRIBUIÇÃO DE REFLEXÃO ALGUNS AUTORES ESPIRITUALISTAS COMO: EDGARD ARMOND, EM SEU " EXILADOS DA CAPELA"; MASAO MAKI, EM "O FENÔMENO DR.FRITZ E A CURA DO PODER DA FÉ", E ALLAN kARDEC, NOS TRAZENDO "A GÊNESE".
    ESSAS LEITURAS NOS TRAZEM A PSICOLOGIA, A NEUROCIÊNCIA, A FÍSICA QUÂNTICA, A FÍSICA E POR AÍ VAI, NOS SEUS RELATOS E COMPROVAÇÕES.
    TAMBÉM RESSALTO QUE FELIZMENTE JÁ HÁ ESSA PREOCUPAÇÃO DE FORMA MAIS ESTRUTURADA, QUANDO ACHEI PELA INTERNET UM CURSO DENOMINADO:"PEDAGOGIA DA AMOROSIDADE", QUE VEM NOS REMETER A ESSA BUSCA INCESSANTE DO EQUILÍBRIO, DA HARMONIA, DO AMOR E DA PAZ.
    CONTINUO COM MINHAS LEITURAS E REFLEXÕES E SIGO ACOMPANHANDO AS SUAS. LUCILA FERREIRA

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  2. Lucila,
    mito obrigada por sua colaboração. Precisamos, de fato, ativar esses saberes e colocá-los em prática, mudando o nosso olhar sobre o "quem aprende". muito obrigada!
    Rossana

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